Dez em cada 10 candidaturas ligadas ao PT fazem referência ao “time de Lula” ou a “candidato de Lula”. A importância do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a relevância dele enquanto “grande eleitor” é inegável. No entanto, essa bengala, de tão recorrente, acaba banalizando a figura do presidente, ao mesmo tempo em que gera a retroalimentação da falta de renovação na política que, em tese, o próprio Lula se manifesta contrário. Lula é maior que o PT e os partidos aliados, mas não deveria ele ser o único mote para impulsionar candidaturas.
Um dos casos mais emblemáticos tem sido o esforço de Geraldo Jr. (MDB) em Salvador tentar ser associado todo o tempo a Lula e ao governador Jerônimo Rodrigues (PT). O vice-governador mudou de roupa em 2022 e ainda tenta se adequar ao novo vestuário na disputa eleitoral pela prefeitura da capital baiana. Após ser obrigado a apresentar um vídeo em que Lula cita apenas tangencialmente a candidatura dele, em entrevista à rádio Sociedade FM, Geraldo conseguiu gravar com o presidente em meio a um turbilhão de outros candidatos que estiveram com ele em Brasília. Foi mais um na multidão, mas pelo menos garantiu alguns segundos com Lula para a propaganda eleitoral.
Entretanto, a bengala “Lula” não é exclusividade de Geraldo Jr. Já foi usada em 2022 pelo próprio Jerônimo e, até o mês de outubro, estará presente em diversas campanhas pela Bahia. Zé Neto, em Feira de Santana, Waldenor Cardoso, em Vitória da Conquista, e Luiz Caetano, em Camaçari, para ficar restrito apenas aos municípios com a possibilidade de segundo turno, repetem diuturnamente que estão do lado de Lula. Chega a ser irônico que o molusco tenha diversos tentáculos, já que só assim o presidente conseguiria dar conta de tantas promessas que fazem em nome dele.
Há até briga judicial para que candidatos de partidos aliados, como PSD e Avante, possam colocar fotos de Lula, de Jerônimo, de Rui Costa e de Jaques Wagner em publicações nas redes sociais, ainda que não figurem como filiados ao Partidos dos Trabalhadores. Se entre 2016 e 2018, o petismo quase ficou classificado como uma doença infectocontagiosa, que afastava políticos, em 2024 a onda parece ter virado completamente, ao ponto de Lula ser figura carimbada em 100% das campanhas eleitorais de aliados ou simpatizantes.
Enquanto estratégica política, a compreensão é até fácil. Foi assim até com Jair Bolsonaro em 2020 e até 2022 (ainda que em uma escala muito menor e menos impactante), já que a ideia é tentar surfar na popularidade do líder do projeto político em questão. Porém é extremamente limitante quando olhamos sob a perspectiva de que há uma demanda social por renovação e por um “novo” viés para a política. Ao incorrer nesse erro, houve a tragédia eleitoral de 2018, por exemplo. E, convenhamos, dificilmente o próprio Lula quereria ver uma reprise do filme de terror vivenciado na democracia brasileira até o 8 de janeiro de 2023…
Lula aparece como bengala, mas não deveria. Agora, o problema está nos políticos que o usam dessa forma ou no eleitor que ainda se impacta com esse discurso restritivo? (Bahia Noticias)